O cotidiano é o que se apresenta como comum, banal, rotineiro. Coloca-se como uma espécie de estrutura da vida, com sua aparente normalidade e estabilidade, sendo justamente este platô que possibilita saltos imaginativos e acontecimentos desviantes. No universo artístico de Marco Paulo Rolla, o cotidiano e as coisas que nos cercam têm importância central. Hábitos como comer, dormir, lavar roupa e objetos que povoam o ambiente doméstico aparecem constantemente em vários momentos. A dimensão do ambiente de trabalho também é considerada em seu caráter repetitivo e rotineiro. Entretanto, estas ocorrências se dão numa atmosfera disruptiva, num cotidiano interrompido por acidentes, quedas, deslizamentos e suspensões, em que os objetos são revoltosos ou têm órgãos humanos (como crítica ao fetiche capitalista), os anúncios revelam a finitude do ser humano, o sonho é performático. O erro e a queda são congelados para ganhar evidência. Este cotidiano é radical porque enfatiza a irrupção e os desvios do que se espera, evidenciando uma crítica à naturalidade de ações, costumes e regras de um “bom funcionamento” social.